"Falar da noite para saberes quem és quando uma indecisa nostalgia insiste em acumular a grafia das sombras que te serpenteiam as margens da vida.
Se vagueares pelos livros hás de constatar que quase todos os poetas falam da noite, porque escrever também é um ato noturno e, para muitos,um lugar de sobrevivência, de amor, de fuga.
Ele traçava na parede do quarto o percurso do pássaro noturno.
Pintava na cal a paisagem por onde se escaparia.
É isso: quando a realidade não te basta, podes sempre sonhar."
"A letra P não é a primeira letra da palavra poema.
O poema é esculpido de sentidos e essa é a sua forma, poema não se lê poema, lê‑se pão ou flor, lê‑se erva fresca e os teus lábios … lê‑se país e mar e céu esquecido e memória, lê‑se silêncio, sim tantas vezes, poema lê‑se silêncio.
O poema é o que tu quiseres que seja.
Pode ser a noite com as frinchas da janela a trazerem o choro do vento, ou o eco das marés, ou o brilho das estrelas."