Uma Grande Brincadeira (Norma Emiliano)

Uma imagem, um conto- fevereiro

Uma iniciativa muito bonita da amiga Norma

 

Letícia se sentia muito triste, andava pelas ruas pensando na sua vida, em como alegrar seus dias.

Nem se havia dado conta de que era Carnaval e um palhaço dela se aproximou devagar.

Em princípio, lhe deu muito medo de ser um assaltante disfarçado.

Afastou-se despistadamente, como sempre fazia quando algum homem ou estranho se aproximava dela. Inclusive, rezava baixinho a Oração de São Cipriano que lhe havia ensinado uma religiosa para espantar gente mal intencionada do sexo oposto.

Na realidade, constatou que era um arlequim e ele continuou a segui-la pelo calçadão afora. Ela olhara tão de relance que nem havia notado a tal fantasia direito.

Como ele não se afastava nem com a oração, ela entrou num supermercado aberto. Ficou lá por um bom tempo, viu preços, comprou algo para não sair de mãos vazias, tomou um cafezinho e nada de ter vontade de sair e enfrentar a fera...

Como não tinha mais o que olhar, resolveu se aventurar e arriscar a ver os ares lá de fora na rua já bem cheia.

Enquanto examinava as mercadorias, pensava, num misto de nostalgia, em algo que tinha lido uma vez e não lhe saiu da memória:

"Eu que sou exótica gostaria de recortar um pedaço do céu para fazer um vestido".

(Carolina de Jesus)

Botou o rosto para fora do mercado, uma chuva de confete e serpentina caiu em cima de si. Ficou mais ainda preocupada, era de dia e não estava ainda na hora de tais graças típicas da época. Em horário noturno, não sairia de jeito nenhum.

Não se conteve, estava apavoradíssima, mesmo tentando disfarçar, quando o  tal fantasiado  começou a gargalhar alto. Do carro, saiu uma bailarina de dois aninhos aproximadamente e  uma colombina bem grande que logo deu a mão à menina.

Como estavam todos paramentados, ela ficou perplexa sem nada entender, mas, pela gargalhada, sentiu algo familiar.

Era mesmo sua família que chegava de viagem de surpresa e lhe queria pregar uma peça a fim de fazê-la rir.

Ufa! Pensou Letícia, achando tudo uma boa lorota e agradecendo pela boa surpresa que lhe haviam feito e, em especial, ao tal mascarado com muito senso de humor desde pequenino.